terça-feira, 25 de maio de 2010

PHOTOSHOP, UMA VISÃO POÉTICA



Há mais de quarenta mil anos temos notícias da necessidade inerente ao homem de produzir registros pictóricos. Exemplos deles foram e até hoje são encontrados nas paredes de cavernas ou ao ar livre em lugares protegidos.

Ao longo da História encontramos os registros pictóricos em monumentos e utensílos de pedras, cerâmicas, armas, ossos e metal.

O desejo de expressão através do que convencionou-se chamar de arte (do latim ars,artis = "maneira de agir") marcou importante registro histórico da maneira de viver e agir dos nossos ancestrais.

Pois bem, também nós estamos marcando a história com os nossos registros pictóricos que, com certeza serão objeto de estudo e admiração pelos nossos descendentes anos à frente.

Depois de couros e tecidos esticados beijados por pinceladas coloridas, ou não, assumindo formas abstratas ou concretas chegamos à era digital onde, com a mesma habilidade de manuseio dos pincéis, manuseamos o mouse em áreas de trabalho de aplicativos criados para alterarmos a natureza ou até mesmo recriá-la.

Assim foi que, em 1987, os irmãos Thomas e John Knoll iniciaram o desenvolvimento do Photoshop cuja versão 1.0 foi lançada pela Adobe em 1990. O programa era destinado desde o inicío como ferramenta de manipulação de imagens provenientes de digitalizadores, que eram raros e dispendiosos naquela época.

O aplicativo, destinado originalmente aos profissionais da área, populariza-se e chega a um incontável número de lares e pessoas com amor às artes pictóricas, muitas vezes sem o objetivo comercial mas sim pelo simples prazer de produzir imagens ou alterá-las, cumprindo aquele impulso primário de registrar as suas impressões sobre o mundo que as cerca, assim como fizeram aqueles moradores das cavernas.

Caracterizado, inicialmente nas primeiras versões, pela logomarca de um olho, fazendo referência ao conceito de visão e imagem, trouxe, nas penúltimas versões, a logomarca de penas estilizadas remetendo-nos à escrita e pintura com penas de aves. Já nas versões últimas as penas foram substituídas por um quadrado com as letra "PS" ao centro adaptando-se à realidade capitalista e consumista dos nossos dias, abandonando a visão poética e romântica dos amantes das artes.

O softwear pode ter assumido uma postura e apresentação comercial porém, a alma de muitos dos seus adeptos não foi tocada, continua poética e romântica. Duas ou mais luas podem estar presentes no mesmo céu. Rastros de estrelas podem circundar imponentes árvores. Gentis e encantadoras figuras femininas podem assumir mágicas posturas de seres imaginários aos quais se atribui poder mágico de influir no destino das pessoas. Imaginários seres mitológicos frequentam ambientes modernos dividindo espaço com seres futuristas, igualmente imaginários. Enfim, a cada nova versão, independentemente das logomarcas que as acompanham, o Photoshop continua sendo uma ferramenta produtora de arte, magia e poesia.

sábado, 10 de abril de 2010

Álvaro de Campos



Mestre, meu mestre querido!

...
Meu mestre e meu guia!
A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,
Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,
Natural como um dia mostrando tudo,
Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.
Meu coração não aprendeu nada.
Meu coração não é nada,
Meu coração está perdido.
...
Depois, mas por que é que ensinaste a clareza da vista,
Se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?
Por que é que me chamaste para o alto dos montes
Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?
...

No túmulo de Christian Rosenkreutz


I

Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até corpo, essa descida
Ate a noite que nos a Alma obstrui,

Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida...
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui

Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aquém não há no Mundo, Corpo Seu.

II

Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;

Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue atual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.

III

Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?

Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosaecruz conhece e cala.

Brasil - De Presidente da UNE a Administrador Público


José Serra nasceu no bairro da Moóca na capital paulista. Ainda adolescente, ingressou na política, como presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo entre 1962 e 1963. Depois, nos dois anos seguintes, foi presidente da UNE.

Perseguido pelo governo militar, três meses depois do golpe de Estado que derrubou João Goulart em 1964, seguiu para o exílio. No exterior, Serra enfrentou dificuldades e não pôde concluir seus estudos de engenharia. Decidiu, então, cursar Economia. Fez seu mestrado nesta disciplina pela Universidade do Chile, da qual se tornou professor. Também foi funcionário da Organização das Nações Unidas nesse período.

Obrigado a exilar-se novamente, após o golpe de Pinochet, Serra foi para os Estados Unidos, onde obteve outro mestrado e o doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade de Cornell. Por dois anos, trabalhou como professor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton.

Em 1978, José Serra retornou ao Brasil. Tornou-se professor da Unicamp, pesquisador do Cebrap e editorialista da Folha de São Paulo. Ajudou a fundar o PMDB, a partir do antigo MDB, sendo relator do primeiro programa do partido. No governo Franco Montoro (1983-1987), foi Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo.

Elegeu-se deputado federal em 1986 e reelegeu-se em 1990. Quatro anos mais tarde, foi eleito senador por São Paulo. Em seguida, ocupou o Ministério do Planejamento e Orçamento do governo Fernando Henrique Cardoso até meados de 1996. A partir de abril de 1998 assumiu o Ministério da Saúde.

No ministério, comandou uma campanha de combate à Aids que é reconhecida como referência no mundo e que é, hoje, adotada por diversos países. Também implantou os genéricos e regulamentou a lei de patentes, fazendo aprovar uma resolução da Organização Mundial do Comércio que permite aos países quebrarem patentes em caso de interesse da saúde pública.

Em 2004, José Serra assumiu a prefeitura de São Paulo, com um desempenho que correspondeu a sua imagem de administrador eficiente e aumentou sua popularidade. Assim, mesmo tendo feito a promessa de cumprir integralmente o mandato como prefeito, deixou o cargo para concorrer ao governo do Estado. Conseguiu conquistar o eleitorado da capital e do interior, elegendo-se governador de São Paulo, no primeiro turno, em outubro de 2006.

Lançado pelo PSDB candidado à Presidência da República será o oponente direto da candidata do PT Dilma Roussef.

Brasil - De Guerrilheira à Administradora Pública


Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Uberaba, Estado de Minas Gerais. Filha do engenheiro e poeta búlgaro Pétar Russév (naturalizado brasileiro como Pedro Rousseff) e da professora brasileira Dilma Jane Silva, faz a pré-escola no Colégio Isabela Hendrix e, a seguir, ingressa em um dos colégios mais tradicionais do Brasil, o Sion, de influência católica.

Aos 16 anos, transfere-se para uma escola pública, o Colégio Estadual Central (hoje Escola Estadual Governador Milton Campos). Começa, então, a militar como simpatizante na Organização Revolucionária Marxista - Política Operária, conhecida como Polop, organização de esquerda contrária à linha do PCB (Partido Comunista Brasileiro), formada por estudantes simpáticos ao pensamento de Rosa Luxemburgo e Leon Trotski.

Mais tarde, em 1967, já cursando a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Dilma passou a militar no Colina (Comando de Libertação Nacional), organização que defendia a luta armada. Esse comportamento, de passar de um grupo político a outro, era comum nos movimentos de esquerda que atuavam durante o período da ditadura iniciada com o Golpe de 1964,

Em 1969, já vivendo na clandestinidade, Dilma usa vários codinomes para não ser encontrada pelas forças de repressão aos opositores do regime. No mesmo ano, o Colina e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) se unem, formando a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Em julho, a VAR-Palmares rouba o "cofre do Adhemar", que teria pertencido ao ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. A ação ocorreu no Rio de Janeiro e teria rendido à guerrilha US$ 2,4 milhões. Dilma nega ter participado desta operação, mas há quem afirme que ela teria, pelo menos, ajudado a planejar o assalto, afirmação que tem pertinência pois era militante ativa da VAR-Palmares.

Em setembro de 1969, a VAR-Palmares sofre um racha. Volta a existir a VPR. Dilma escolhe permanecer na VAR-Palmares que tinha muito mais condições financeiras que a VPR - e ainda teria organizado três ações de roubo de armas no Rio de Janeiro, sempre em unidades do Exército. Com dinheiro e armas a facção subversiva seria muito mais atrativa e atuante.

Presa em 16 de janeiro de 1970, em São Paulo, o promotor militar responsável pela acusação a qualificou de "papisa da subversão". Fica detida na Oban (Operação Bandeirantes), onde é torturada. Depois, é enviada ao Dops. Condenada em 3 Estados, em 1973 já está livre, depois de ter conseguido redução de pena no STM (Superior Tribunal Militar). Muda-se, então, para Porto Alegre, onde cursa a Faculdade de Ciências Econômicas, na Universidade Federal do RS.


Do PDT ao PT
Filia-se, então, ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), fundado por Leonel Brizola em 1979, depois que o governo militar concedeu anistia política a todos os envolvidos nos anos duros da ditadura.

Dilma Rousseff ocupou os cargos de Secretária da Fazenda da Prefeitura de Porto Alegre (1986-1989), presidente da Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (1991-1993) e Secretária de estado de Energia, Minas e Comunicações em dois governos: Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT).

Filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 2001, coordenou a equipe de Infra-Estrutura do Governo de Transição entre o último mandato de Fernando Henrique Cardoso e o primeiro de Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-se membro do grupo responsável pelo programa de Energia do governo petista.


Ministérios
Dilma Rousseff foi ministra da pasta das Minas e Energia entre 2003 e junho de 2005, passando a ocupar o cargo de Ministra-Chefe da Casa Civil desde a demissão de José Dirceu de Oliveira e Silva, em 16 de junho de 2005, acusado de corrupção.

Em 2008, a Casa Civil foi envolvida em duas denúncias. Primeiro, a da montagem de um provável dossiê contendo gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O dossiê seria uma suposta tentativa de silenciar a oposição, que, diante do escândalo dos gastos com cartões de créditos corporativos realizados por membros do governo federal, exigia a divulgação dos gastos pessoais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua esposa. Depois, em junho, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, acusou a Casa Civil de ter pressionado a agência durante o processo de venda da empresa Varig ao fundo de investimentos norte-americano Matlin Patterson e seus três sócios brasileiros. Dilma Rousseff negou enfaticamente todas as acusações.

Em 9 de agosto de 2009, a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, disse ao jornal Folha de São Paulo que, num encontro com Dilma, a ministra teria pedido que uma investigação realizada em empresas da família Sarney fosse concluída rapidamente. Dilma negou a declaração de Lina, que, por sua vez, reafirmou a acusação em depoimento no Senado Federal, mas não apresentou provas.

Apesar de, em diferentes períodos, ter cursado créditos no mestrado e no doutorado de Economia, na Unicamp, Dilma Rousseff jamais defendeu a dissertação ou a tese.

De guerrilheira na década de 1970 a participante da administração pública em diferentes governos, Dilma Vana Rousseff tornou-se uma figura pragmática, de importância central no governo Lula, de quem é candidata à sucessão nas eleições de 2010.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

SAGRADAS MULHERES


Os numerosos templos ainda existentes no Egito revelam a importância que os antigos egípcios davam à religião e às suas mulheres. A estrutura do clero era extremamente organizada: havia uma hierarquia sacerdotal em que cada sacerdote tinha uma ocupação específica. Ao sumo sacerdote cabia a função de representar o faraó, que era um deus encarnado. Fisicamente era impossível para o rei, realizar rituais em todos os templos do Egito ao mesmo tempo. A onipresença do rei-deus era assegurada, magicamente, através do sumo sacerdote de cada templo.

Abaixo dos sumos sacerdotes, haviam os sarcedotes uabu (puros), os it nitir (pais divinos), os himu nitir (servidores do deus), entre outros.

O número de mulheres ligadas ao culto nos templos também era grande, pois cada templo possuía um grupo de cantoras e musicistas sagradas. Essa sacerdotistas tinham a função de cantar hinos sagrados e tocar os sistros (intrumentos musicais destinados a afastar o mal) durante os rituais. Elas não residiam no templo, mas sim com suas respectivas famílias e levavam uma vida normal. Eram convocadas em dias específicos e apenas por algumas horas, sendo dispensadas depois das cerimônias.

Por outro lado, as sacerdotistas que compunham a khnirit (equipe de suporte constante), residiam no templo como reclusas. Eram chefiadas pelas sacerdotistas que tinham os títulos de “Esposas do Deus”, “Divina Mão” ou “Divina Adoradora”.

O clero feminino mais poderoso foi, certamente, o do deus Amun. A partir do Novo Império o título de “Esposa do Deus Amun” foi reservado à esposa do faraó, que poderia também receber o título de “Divina Mão”. A primeira rainha a receber o título de “Esposa do Deus Amun” foi Ahms-Nfrtari, esposa do faraó Ahms o fundador da XVIIIª Dinastia (cerca de 1550 a.C.).

Por dedicar-se a reorganização da religião e graças as suas numerosas contribuições para o desenvolvimento dos cemitérios e templos de Thbas(Tebas) (principal centro de culto de Amun), Ahms-Nfrtari foi adorada, posteriormente, como deusa. A raina e seu filho Amun-hatp I, tornaram-se os patronos da necrópole de Thbas, e foram cultuados por varias gerações, sobretudo na região de Dai ral-Mdina.

Depois de Ahms-Nfrtari outras rainhas e princesas também usaram o titulo de “Esposa do Deus”. A partir da XXIª Dinastia (cerca de 1070 – 945 a.C.), o título de “Esposa do Deus”, unido ao de “Divina Adoradora” foi reservado a uma das filhas do faraó, ou a outra mulher de sangue real.

Eram, geralmente, virgens que se preocupavam integralmente no serviço sagrado. Cada faraó desse período colocava uma filha nesse posto, que representava grande poder religioso e político.

A “Divina Adoradora” tinha grande prestigio, era a única mulher que tinha acesso à área mais sagrada do templo, onde ficava o santuário do deus Amun. Possuía funcionários influentes, propriedades e riquezas, além de ter sob seu comando as sacerdotistas de cargos inferiores. Virgens, as “Divinas Adoradoras”, perpetuavam sua autoridade adotando uma jovem herdeira de seu sangue, formando assim uma dinastia feminina dentro do templo.

Essas mulheres reclusas entoavam hinos, tocavam sistros e reservavam sua beleza ao deus Amun, rendendo-lhe culto diariamente.

Durante as XXVª e XXVIª Dinastias (período de 715 – 525 a.C.), essas líderes religiosas viveram uma época de esplendor. Porém, com a invasão dos persas, os títulos de “Divina Adoradora” e “Esposa do Deus” desapareceram.

Contudo, as imagens dessas mulheres poderosas sobreviveram ao tempo; seus retratos são admirados e requintadas obras de arte expostas em museus do mundo inteiro.

Bem conhecida, a estatueta representando a rainha Karumama da XXIIª Dinastia, impressiona quem visita o Museu do Louvre em Paris.

A rainha foi retratada usando uma peruca curta e arrendondada, típica da moda de sua época; sobre a cabeça ela ostenta o mudius (uma espécie de “coroa suporte”) onde, possivelmente existiam duas longas plumas. Sua túnica é decorada com um lindo colar e sobre sua fonte é possível notar o corpo da naja real (o ura'us).

A posição das mãos parece estranha porque faltam, provavelmente, os dois sistros que Karumama utilizava durante os rituais.

Para alguns essa imagem feita em bronze pode parecer simples, se comparada com as famosas obras em ouro e gemas preciosas. Porém, só as mulheres que possuíam uma alta posição na sociedade tinham condições de ter suas imagens feitas em bronze. Além disso, Karumama ostenta os títulos de “Esposa do Deus, Senhora das Duas Terras, a Divina Adoradora de Amun, filha de Rá, Senhora das Coroas, Karumama, Amada da deusa Mult”.

A grandiosidade e riqueza do clero feminino são notadas nos sarcófagos das sacerdotistas; feitos em madeira nobre, trazida da Fenícia (hoje Líbano), pintados com belíssimos motivos florais e cenas religiosas, essas obras de arte, revelam o gosto refinado de suas proprietárias.

O Museu Metropolitano de New York orgulha-se do magnífico ataúde de madeira estucada e pintada, que foi da sacerdotista Hinit-taui, da XXIª Dinastia. O sarcófago, que mede 2,03cm, abriga um outro esquife dentro, que por sua vez abriga uma rampa de madeira destinada a cobrir a múmia.

A ausência de ouro não diminuiu o valor desse jogo de ataúdes que, esculpidos em madeira importada, na época custava uma verdadeira fortuna.

O grande número de sarcófagos semelhantes mostra que as abastadas sacerdotistas não hesitavam em pagar grandes quantias por um funeral digno de sua posição.

Hoje os templos estão abandonados. O templo de Amun, em Karnak, não ostenta suas cores vivas de outrora. Nos recintos onde só os grandes sacerdotes podiam entrar, os homens comuns tocam as paredes e colunas espantados com o que restou daquela cidade santa.

Os milênios abafaram o coral das sacerdotistas e o som dos sistros; o que se escuta hoje, é a voz do guia e o riso de alguns turistas que não compreendem a iconografia egípcia.

O tempo tudo devora, faz desaparecer as vozes, rasga nossas vestes e esvazia cidades inteiras. Mas os antigos egípcios venceram o tempo e fizeram dele seu aliado. Ganharam a eternidade e, mesmo calados, “falam” por meio de seu legado.

As mulheres sagradas de Amun, reclusas e virgens fizeram seus nomes atravessarem as paredes do templo e do tempo, chegando até as partes mais remotas do mundo, alcançando a eternidade.

COMPAIXÃO


Penetrar na alma do outro e perceber seus segredos e mentiras, suas verdades e vontades, seus desejos e medos.

Reconhecer a mais íntima existência de um outro alguém que não é igual nem diferente, nem maior, nem menor, apenas existe em sua individualidade com seus pensamentos, percepções e sentimentos.
Comungar do sentimento alheio sem se confundir com ele. Estar com o outro sem ser ele e sem lhe pertencer ou ser pertencido.
Sentir pelo sentir do outro; pensar pelo pensar do outro; perceber pelo perceber do outro, exatamente como o outro sente, pensa e percebe, sem distorções, sem mentiras, sem enganos...
Assim como tomar os olhos do outro e com eles olhar para o mundo, para si mesmo e para a profundidade da alma de quem se compartilha o momento único, pleno da intensidade da comunhão.
Refletir a imagem do outro e não criá-la a sua semelhança.

Assim é a compaixão.

Ela aflora quando vemos pela TV os efeitos do HIV na África. Quando vemos, no mesmo continente, os efeitos da guerra que causam fome em crianças com olhos enormes, esqueletos desenhados abaixo da pele e moscas passeando e sorvendo os líquidos lacrimais e nasais. Gostaria de fazer um paralelo, se me permitem, sobre compaixão e trazê-la do global para o pessoal. Eu não sou psicólogo, portanto, não irei perturbá-los muito.

Um importante estudo feito há algum tempo nos seminários Teológicos de Princeton explica as razões porque mesmo que todos tenhamos tantas opções para ajudar, ajudamos algumas vezes e outras não. Um grupo de estudantes no Seminário Teológico de Princeton foi instruído a praticar um sermão e a cada um foi dado um tema. Metade deles recebeu como tópico a parábola do Bom Samaritano: o homem que parou para ajudar um estranho, um estranho necessitado à beira da estrada. A outra metade recebeu outros temas bíblicos. Então, um a um, eles foram instruídos a ir a outro prédio e fazer uma palestra sobre o tema. No caminho até lá, cada um deles passou por um homem agachado, gemendo, claramente necessitado. A pergunta é: eles pararam para ajudar?

A pergunta mais interessante é: Fez diferença se estavam pensando na parábola do Bom Samaritano? Resposta: não! Absolutamente não. O que determinou se alguém iria parar e ajudar um estranho necessitado era com quanta pressa eles achavam que estavam, se eles achavam que estavam atrasados, ou se eles estavam concentrados no que iriam dizer. E isto é, acho, a situação de nossas vidas: nós não aproveitamos cada oportunidade de ajudar, porque estamos olhando na direção errada.

Existe um novo campo da neurociência, a neurociência social que estuda os circuitos no cérebro das pessoas que são ativados quando elas interagem. A nova análise da compaixão, pelas neurociências sociais, é que os circuitos, por padrão, nos dizem para ajudar. Ou seja, se notamos a outra pessoa, nós automaticamente temos empatia, nós automaticamente sentimos o que ela sente. Existem neurônios recém-identificados, os neurônios-espelho, que funcionam como neurônios Wi-Fi, ativando nosso cérebro exatamente as áreas ativadas no de nosso semelhante. Sentimos o mesmo automaticamente. E se a pessoa tem alguma necessidade ou está em sofrimento, estamos automaticamente preparados para ajudar. Pelo menos este é o argumento.

Mas a pergunta é: por que não o fazemos? E isto passa por um espectro que vai de completo egocentrismo, a notar, à empatia e à compaixão. E o fato é que, se nós estamos concentrados em nós mesmos, se estamos preocupados, como é comum durante o dia, nós não notamos o outro de forma alguma. E esta diferença entre o si mesmo e o estar em outro foco pode ser muito sutil.

Estava preenchendo o imposto de renda outro dia e cheguei ao ponto em que listava as doações que fiz, e tive uma epifania, assim que vi minha doação para uma determinada Fundação Para Saúde Visual e eu pensei, puxa, meu amigo Fulano deve estar feliz de eu dar dinheiro para a sua Fundação. Então percebi que o que tive foi uma crise narcisista de me sentir bem sobre mim. E comecei a pensar sobre as pessoas cujas cataratas seriam operadas, e percebi que fui do egocentrismo narcisista para a felicidade altruista, de me sentir bem pelas pessoas que ajudei. Acho que isto é um motivador.

Mas a distinção entre o foco em nós e o foco nos outros é uma que eu incentivo a todos a prestar atenção. Você pode ver isso, grosso modo, no mundo dos namoros. Eu estava em um Sushi Bar há algum tempo e ouvi duas amigas conversando sobre o irmão de uma delas, que era solteiro. E uma delas dizia, "Meu irmão tem dificuldade para marcar encontros, então ele experimentou uma casa de encontros." Vocês já ouviram falar? As mulheres sentam-se nas mesas e os homens vão de mesa em mesa, e existe um relógio e um sino, que soa a cada cinco minutos, a conversa acaba e a mulher decide se dá um cartão ou seu e-mail para o homem para continuarem. E aquela mulher disse: "Meu irmão nunca recebeu um cartão. E eu sei exatamente o porquê. No momento em que senta, ele começa a falar de si, ele nunca perguntou nada à mulher sobre ela."

Eu fiz uma pesquisa em jornais, procurando histórias de casamentos, porque elas são muito interessantes, e soube sobre o casamento de Fulana de Tal. Ela disse que quando ela estava na fase dos encontros, ela tinha um teste simples para a outra pessoa. O teste era: do momento em que se encontraram, quanto tempo levava até que o homem fizesse uma pergunta com a palavra "você". E o Sr. "de Tal" parece que passou no teste, daí a razão do artigo.


É nossa empatia, nossa sintonia que nos separa dos maquiavélicos e sociopatas. Há um escritor especialista em horror e terror que escreveu "O Drácula comentado", "Frankenstein Essencial". À certa altura ele decidiu escrever um livro sobre um serial killer. Um homem que aterrorizou a vizinhança há muitos anos. Ele era conhecido como estrangulador de Santa Cruz. E antes de ser preso, ele matou seus avós, sua mãe e cinco estudantes da universidade onde estudava.

Ele entrevistou esse assassino e descobriu, que este homem é aterrorizante, primeiro, porque tem quase dois metros de altura. Mas esta não é a coisa mais assustadora sobre ele, o mais horripilante é que seu QI é 160: seguramente um gênio. Mas não existe nenhuma correlação entre QI e empatia emocional, sentir com o outro. Eles são controlados por partes diferentes do cérebro.

Em determinado momento o escritor toma coragem e pergunta o que ele realmente quer saber.
- "Como pôde fazer aquilo?" "Você não sentiu nenhuma piedade por suas vítimas?" Aqueles foram assassinatos íntimos, ele estrangulou as vítimas. E o estrangulador disse diretamente:
- "Não, se eu sentisse mal estar, eu não conseguiria ter feito. Eu tive de desligar essa parte de mim. Eu tive de desligar essa parte de mim".


Há algum tempo, quando eu fazia um trabalho voluntário com as pessoas sem-teto nas ruas descobri, ao observá-los, que quase todos eram pacientes psiquiátricos que não tinham onde ficar. Eles tinham um diagnóstico. Isso me fez ver, e o resultado foi me tirar do transe urbano onde, quando vemos um sem-teto, ou cruzamos por um deles com o canto do olho, ele fica nesta periferia do nosso olhar. Se não os notamos, não agimos.

Um dia, logo depois disso, era uma sexta no fim do dia, eu desci as escadas do metrô na hora do rush e havia centenas de pessoas descendo as escadas. Subitamente, enquanto descia eu notei um homem caído ao lado, sem camisa, imóvel, e as pessoas apenas pulavam por cima dele, centenas e centenas de pessoas. E porque meu transe urbano foi de algum modo enfraquecido, eu parei para ver o que havia de errado. No momento em que parei, meia duzia de pessoas imediatamente pararam em torno dele. Descobrimos que era um hispânico, não falava portugês, não tinha dinheiro, andou pela cidade por dias, faminto, e desmaiou de fome. Imediatamente alguém trouxe suco de laranja, outro trouxe um cachorro-quente, e alguém chamou um segurança do metrô. E aquele homem se ergueu imediatamente. Tudo que precisou foi o simples ato de ser percebido, então, eu estou otimista.

OS MORTOS NÃO VOTAM


Eu, como tantos outros, às vezes me dirijo silenciosamente aos cem mil civis iraquianos mortos: Se vocês tivessem sido pássaros seu desaparecimento teria causado muito mais revolta; Vocês poderiam ter passado em revoada sobre uma metrópole e nublado os céus por algumas horas em protesto; Meteorologistas e observadores de pássaros certamente teriam notado. Se tivessem sido árvores teriam formado uma bela floresta cuja destruição teria sido considerada um crime contra o planeta. Se tivessem sido palavras teriam formado um livro precioso ou um manuscrito cuja perda teria sido denunciada pelo mundo todo; Mas vocês não são nada disto e tiveram que desaparecer quietos como se nada disto tivesse acontecido. Ninguém vai fazer campanha por vocês nestas eleições, ninguém se preocupa em representá-los.