Há dez mil anos *atrás*

O verbo *haver* costuma aprontar com os usuários da língua portuguesa. Haja casca de banana! O *Aurélio apresenta *trocentas* acepções para o danadinho. Veja as principais dúvidas no uso do dito-cujo.

HÁ/A - Escreva *há* sempre que houver indicação de existência (*Há muita gente passando fome no mundo*) ou de tempo passado (neste caso, *há* pode ser substituído pela forma verbal *faz*): *Ela não manda recado há um mês*. Escreva *a* (preposição) quando houver indicação de tempo futuro e de distância: *Daqui a duas semanas viajarei para Maceió*; *João Pessoa fica a 180 quilômetros de Recife*.

HÁ/EXISTIR - O verbo *haver*, quando usado no sentido de *existir* ou de *acontecer*, é verbo impessoal: *Havia dez pessoas na sala* (e não *haviam dez pessoas na sala*). Atenção: o verbo auxiliar também permanecerá no singular (*DEVIA haver dez pessoas na sala*, e não *DEVIAM haver*).

HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS - Olho nos pleonasmos. Raul Seixas que nos perdoe, mas a forma verbal *há* já indica tempo passado, o que dispensa o uso da expressão *atrás*: *Há dez mil anos* ou *Dez mil anos atrás*. (*Rauzito* tá perdoado: a letra da música é do ex-parceiro Paulo Coelho, escritor que admiro e também perdoado usando da *licença poética*).

HÁ/HAVIA - Quando o verbo que acompanha *haver* estiver no imperfeito (fazia, comprava) ou no mais-que-perfeito (fizera, comprara), devemos usar a forma *havia*, e não *há*. Dica: troque *haver* pelo verbo *fazer*. Se na substituição der *fazia*, use *fazia*: *Os náufragos não comiam havia (fazia) três dias*. Se der *faz*, use *há*: *Ayrton Senna faleceu há (faz) 10 anos.



Yussif jun/06