Uma mordida desautorizada em uma maçã fez nascer a primeira Paraíso Fashion. Ecologicamente corretos, os trajes eram constituídos de fibras absolutamente naturais e em consonância com as cores da natureza no mais puro verde. Aparentemente o nosso planeta ainda não girava em torno do sol pois a cobertura das partes pudicas era o suficiente para dar conforto e proteção além de sobrestar a vergonha inserida pela inconveniente serpente, afinal ainda não havia plateia, nem faculdades.
Com o passar do tempo tudo indica que o movimento de translação se instaurou e as estações do ano se estabeleceram criando a necessidade de trajes adequados a cada época do ano. O ecologicamente correto foi abandonado e passamos a consumir o conteúdo e vestir o externo dos animais. Longos e espessos no outono/inverno, moderados ou leves e curtos ou curtíssimos na primavera/verão, instintivamente da mesma forma que o camelô vende chocolates no inverno, guarda-chuvas sob as águas de março e ching-lings no natal .
Como o sistema de aprendizado das crianças se dava em ambientes familiares, sentados sobre pedras ao ar livre ou encerrados nas cavernas emoldurando uma fogueira, dependendo da posição do planeta em relação ao sol e, principalmente porque os trajes haviam sido confeccionados pelos próprios professores não havia um processo de avaliação da adequação dos trajes nos períodos de aula.
A preocupação com os trajes nasceu em uma região do mundo onde, pessoas que se "achavam" ao cruzarem nas ruas com outras cujas vestes não eram do seu agrado juntavam os lábios em projeção anterior e soltavam um sonoro mas discreto "aux". Este som perdura através dos tempos e foi incorporado à língua dos moradores daquela região.
Desde então, por convenções sociais e comunitárias as vestes se tornaram códigos, códigos que traduzem a nossa posição social, a nossa idade, a nossa religião, se somos orientais ou ocidentais, se vivemos na praia ou no campo, se estamos passeando ou a trabalhando, se estamos prontos para dormir ou para um banho de piscina e, principalmente, as nossas intenções pois, são distintos os trajes para um encontro com o namorado ou namorada ou para uma entrevista de seleção quando postulamos um posto de trabalho assim como são distintos os trajes para uma festa a rigor ou um encontro com amigos para um chope gelado. São diferentes, também, os trajes de uma freira e de uma profissional do sexo. Não conhecer ou seguir estes códigos é correr o risco de ser confundido com uma ou com outra. As liberdades individuais são limitadas por este código mesmo quando vivemos no mais puro regime democrático. O código social não é uma linha como uma corda bamba que basta uma pequena distração para o desastre, ele está contido dentro de uma faixa flexível que permite, através da tolerância coletiva, que estejamos ora no centro, ora em uma extremidade e ora na extremidade oposta. Para que vivamos em paz, com nós mesmos e com a sociedade a qual pertencemos é necessários que estejamos dentro da faixa estabelecida. Correr riscos calculados é próprio dos administradores, correr riscos consequentes é próprio dos empreendedores, correr riscos sem ponderação é próprio dos adolescentes que, às vezes, preferem aprender da maneira mais dolorida.
Yussif/Nov09
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