O livro "Por um viver melhor" autorizado pelo MEC preceitua que está permitido falar e escrever errado sob o argumento de que isto é para quebrar o preconceito sobre o pobre que não sabe falar bem. Será que o MEC não vê o que está fazendo? Em vez de ensinar a todos o falar e o escrever correto, em nome do progresso social está autorizando fala e escrita "diferentes". Parece que o MEC está querendo criar duas línguas distintas no país, o português dos condomínios e shoppings e o português das ruas e do campo. O MEC não sabe que uma boa política social é unificar a língua de uma nação, respeitando-se, tão somente, as diferenças regionais expressas pelos sotaques e alguns significados particulares que só enriquecem uma língua. "Macacheira" no nordeste é "mandioca" no sudeste, "mandioquinha" em São Paulo é "batata barôa" no Rio de Janeiro, "peleia" no Rio Grande do Sul é "briga" no restante do país. Isto não agride a Língua Portuguesa, não vai contra as regras gramaticais, amalgama da unicidade do mesmo falar e escrever. A língua é uma das poucas coisas que promove a unificação de um país e o rádio e a televisão têm papel importantíssimo neste processo. Todo aquele que preza pela Unidade Nacional, faça ele parte da elite intelectual ou parte da grande maioria popular, deveria contribuir para que a nossa língua seja a mesma em todas as camadas da população. Não nos esqueçamos de que há pouco mais de cem anos a Ítália não existia, era um aglomerado de principados, cada um com o seu idioma, quem fez a Itália foi a escola ensinando italiano para todos. A escola para as crianças e as forças armadas para os joves e adultos. Portanto, promover a diferenciação da língua é promover o apartheid social, é promover, aí sim, o preconceito linguístico. Afinal, quando todos são "iguais" não há preconceito, tampouco apartheid.
O que me causa maior estranheza é que desde a ascenção de um operário ao cargo máximo da nação, portanto, com políticas públicas criadas no sentido de alcançar os mais carentes, principalmente possibilitando condições facilitadoras para o acesso às universidades, a malfadada publicação vem como substituta de uma política eficaz para combater o analfabetismo, a exclusão social. O conceito que legitima tal publicação vem como um simples afrouxamento dos guilhões que escravizam e mantêm na ignorância aqueles advindos de classes menos afortunadas. É preciso que nos conscientizemos de que a língua, na sua forma culta, é a carta de alforria do eterno escravo da ignorância. Querer nivelar por baixo a forma de falar e de escrever de um povo, ignorando as regras gramaticais, é uma maneira de tegiversar e não mudar nada. É uma maneira criativa de não enfrentar o problema no seu âmago, um eufemismo criado para enevoar o verdadeiro caos em que se encontra a educação no Brasil. Não é raro ter em sala de aula alunos que me perguntem quanto tempo levaria para que falem ou escrevam como eu (um simples professor). A resposta é sempre a mesma: Depende de quantos livros você conseguirá ler! Isto demonstra a vontade que os nossos jovens têm de serem equiparados por cima, de poderem dizer que "chegaram lá".
Cuba é o maior exemplo de respeito à uma língua, pois o nível de escolaridade da população propicia que desde um simples operário até um intelectual, fale o espanhol corretamente, portanto, pobreza ou falta de oportunidade de ascenção social não deveria ser sinônimo de assassinato da língua pátria.
Concluo dizendo que um livro oficial do governo autorizando o português errado não pode ser usado em nome da popularização, da quebra do preconceito, da aceitação da diferença, é mais uma tentatica de uma solução social criativa para não mudar as coisas. Equivale a dizermos que se não há professor de matemática na escola elimina-se a matéria da grade curricular. Equivale a dizermos que como as pessoas não estão conseguindo aprender o português na escola e, diga-se com todas as letras, NÃO POR CULPA DELAS, mas sim por um sistema educacional totalmente falido, devemos tolerar o português da forma que cada um quiser falar. A persistir esta maneira de conduzir o ensino no Brasil teremos instalado o processo de apartação e em breve teremos o português falado pelo rico e o português falado pelo pobre, ou o português falado nos condomínios e shoppings e o português falado no campo, até que em um determinado momento não haverá comunicação entre as duas partes.
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