segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Pátria amada, Brasil!


*Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante*.

Gigante pela própria natureza, este leitor bradou: *Não há crase na expressão ÀS MARGENS PLÁCIDAS, porque o termo funciona como sujeito da oração!*. E completo: *A letra correta do Hino Nacional é OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS (...)*.

Erro retumbante de quem craseia o sujeito. As margens já não estão mais tão plácidas assim. Ó pátria amada, idolatrada, salve-me, salve-me! Tal qual zilhões de outras publicações (*Aurélio* eletrônico, inclusive), confundimos sujeito (*as margens plácidas do Ipiranga*) com adjunto adverbial de lugar (às margens plácidas do Ipiranga). Resumo da ópera, ou melhor, do hino: as margens plácidas do Ipiranga ouviram (nem só as paredes têm ouvidos).


Craseia-se um sujeito quando uma expressão é sustantivada:
*"Às custas" como sujeito de uma frase é preposicionado, assim como "De cor".

A inversão dos versos do hino, composto em 1922 por Joaquim Osório Duque Estrada, é conhecida como anástrofe. Na ordem direta, os versos do hino querem dizer o seguinte: *As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico*. Simples, não é? A ordem dos fatores -
como se vê - altera o produto. E pra que facilitar se podemos complicar?

Há quem defenda a modernização da letra do hino. Não é preciso tanto radicalismo. Mas, na hora de escrever, não queira ostentar o lábaro estrelado. Evite o estilo *osoriano*: texto longo, palavras difíceis, adjetivos inúteis e ordens inversas. Ordem e progresso. Prefira o jeito *machadiano* de escrever: curto e fino, vívido, formoso, risonho e límpido.




Yussif Maio/2006

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