segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A música árabe




A música Árabe

 
A dança árabe é determinada pelo acompanhamento musical. Esta música nunca é simplesmente pano de fundo. É tarefa da bailarina expressar as emoções solicitadas pela música e durante improvisações destacar a qualidade do instrumento que sola, extraindo dele sua qualidade essencial, tudo através da dança. O termo música árabe é enganoso. Notas, ritmos, instrumentos e estilos de canto variam de país para país. Ainda assim, toda música árabe compartilha certas semelhanças. Uma delas é que dentro de sua estrutura formal, ela reteve do passado uma fortíssima qualidade na improvisação e em sua essência ela é altamente melódica.

 Ao contrário da música ocidental, ela não desenvolveu o uso da harmonia. A razão básica é que harmonia depende de um sistema tonal fixo (um espaço invariável entre notas). Toda escala na música árabe tem certas posições fixas – tons e meios tons – como na música ocidental, mas entre eles existem notas sem lugar fixo e que caem em posições ligeiramente diferentes numa escala cada vez que são tocadas.

 Na música árabe, uma única oitava pode conter algo entre 18 e 22 notas com intervalos tão pequenos quanto a nona parte de um tom. As únicas composições que podem incluir harmonias simples são aquelas baseadas na melodia e escala ocidental. É este tipo que ouvimos nas gravações orquestradas modernas.

 Dentro do elaborado sistema de escalas da música árabe, os instrumentistas tem espaço para explorar a melodia, mais ou menos da mesma forma parecida que uma improvisação de jazz. Isto é feito utilizando a melodia e tecendo padrões complexos ao redor dela, do mesmo modo que a arte islâmica começa com um motivo central e ornamentos ao redor dele para construir os padrões arabescos.

 O mais próximo que podemos chegar da antiga música árabe é o que vemos na estrutura formal Arabe-Andaluz, um estilo de Maghrib. Os mouros, termo europeu para designar os árabes e bérberes, ficaram na Espanha por 700 anos. Inicialmente conquistaram a Andaluzia, como eles a batizaram no início do século VIII e por algum tempo ela permaneceu não mais do que uma remota província do Império Islâmico em expansão. Ainda em tempo, a Andaluzia, que compreendia uma área maior do que a que conhecemos hoje por este nome, se tornou o maior canal da civilização islâmica para o Ocidente. Nos idos de 750 a dinastia de Umayyad foi expulsa de Damasco e se estabeleceu na Andaluzia. A apaixonante cultura Ummayyad trouxe a música tradicional da Arabia Oriental para Espanha, onde mais tarde foi modificada pelas influências gregas e se tornou a música Árabe-Andaluz que estabeleceu suas raízes no Norte da África.

Em 1822 o músico Zuyab chegou na Espanha da Corte Abassid de Bagdá, trazendo com ele formas musicais persas que tinham sobrevivido na Andaluzia e ainda hoje permanecem no flamenco. O primeiro conservatório de música foi fundado no século XII em Córdoba, naquele tempo um dos centros culturais mais celebrados da Europa. Até aquele momento, a maioria dos habitantes da Andaluzia falava árabe e tinha adotado a fé do Islamismo. A dominação islâmica da Espanha durou até o século XV quando a unidade do califado se enfraqueceu e aconteceram divisões étnicas e tribais, expulsando os muçulmanos da Europa em 1492.

A penetração múltipla de estilos artísticos na Espanha Mourisca deixou mais do que uma esplêndida arquitetura.

No sentimento, o ritmo do cantar, a música da Espanha é mais árabe que européia. Flamenco é uma mistura de elementos mouriscos, andaluzes e ciganos, e sua forma mais antiga é especialmente árabe no sabor com ritmos separados por leves pausas. Esta é uma característica tanto das canções quanto das composições instrumentais.

 O principal instrumento do flamenco, a guitarra (violão), se desenvolveu a partir do Al Aúde, o clássico instrumento da música árabe. O Al Aúde, que provê tanto a melodia quanto o ritmo, é o protótipo no qual a teoria da música árabe é baseada. Ele é cavado em um único bloco de madeira. Através da Espanha Mourisca, o Al Aúde encontrou seu caminha para o resto da Europa, mais tarde se transformando na guitarra dos dias de hoje.

Para examinar a música de todos os países árabes levaria o tempo e o tamanho de um livro. Aqui estão apenas algumas informações sobre o estilo da música oriental, exemplificadas pela música egípcia, a qual tem absorvido a maioria das mudanças ao longo do anos e é a mais ligada com os solos usados na dança feminina.

A música oriental inclui muitas tradições desde o Iraque até o Egito. É difícil fazer a distinção entre música clássica e popular. A música clássica é um refinamento da tradição folclórica. A música menos sofisticada, ou folclórica, do Norte da África e também do Oriente Médio é aquela que acompanha a danças tradicionais tais como a marroquina "chikhat" ou a egípcia "ghauazi".

Quando mulheres se reunem informalmente para se divertir, elas produzem músicas cantadas batendo palmas e usando instrumentos de percussão como bindir e seu equivalente no Oriente Médio, daff.

Contra-tempos são tocados, usando diferentes tipos de palmas, as mãos como conchas produzem som opaco, enquanto bater as pontas dos dedos contra as palmas resulta num som claro e agudo. Essa riqueza e elaboração na forma de bater palmas é uma característica especial da música do Norte da África. O único tambor tocado com bastões, ao invés das mãos é o "tabil baladi" um enorme tambor de duas faces que é pendurado por uma tira em volta do pescoço do músico. Seu som profundo e pesado, faz dele um instrumento popular para todas as celebrações que envolvem procissões, tais como casamentos e cerimônias religiosas.

 Os instrumentos rítmicos de música oriental tanto folclórica quanto clássica são o darbak (darbuka na África) e o tabla (no Egito). Este instrumento parecido com o pandeiro ou pequenos tambores do Brasil, produz sonoridade intensa e nas mãos de um músico habilidoso, os mais sutis embelezamentos na música.

A música oriental moderna tem sido influenciada de diversas formas pelo Ocidente, formas que às vezes são bem-vindas, e às vezes não. No Yemen, músicos que tocam canções ou melodias tradicionais são respeitados enquanto outros que utilizam um estilo ocidental são tratados com desprezo. Contrariamente no Egito e Líbano música ocidental tem sido aceita pela diversidade que oferece. A influência ocidental na música egípcia deriva das tentativas no final do século XIX para modernizar o país e do impacto posterior da mídia. Este impacto foi concentrado nas grandes cidades.

Do final do século XIX para frente, novas escalas melódicas padrões métricos e tipos de composição foram absorvidos dentro da música no Egito, enquanto o tipo de instrumentos usados numa orquestra mudavam e cresciam em variedade. O "tabla" originalmente um instrumento "baladi" se tornou proeminente nas orquestras apenas depois da 1ª Grande Guerra Mundial. O tradicional grupo de quatro ou cinco instrumentos cresceu para uma orquestração completa. O estilo europeu das bandas militares resultou na gradual adição dos metais, enquanto violino, orgão elétrico, acordeom e violoncelo gradualmente foram aceitos e se transformaram em parte de uma orquestra egípcia.

Quanto maior o número e a variedade dos instrumentos, mais fácil é criar uma rica sonoridade. Como as bandas cresceram de 5 a 6 componentes para as grandes orquestras de hoje, também a música ganhou uma textura mais rica, com instrumentos específicos ou grupos de instrumentos dominando certos trechos da música. Os percussionistas produziram uma ornamentação mais complexa nos ritmos, e uma música que no passado tinha sido principalmente improvisada se tornou mais estruturada.

 
Os Ritmos na Música Árabe

 Alguns dos principais ritmos são:

 - Baladi

- Uhada U nuz

- Saíd

- Malfuf/Saudi - Khaligi

- Masmudi

- Aiub

- Chiftitili

- Rush

 
BALADI

Este é um ritmo inserido no grupo dos derivados do Maqsum .

Maqsum simples é a base de muitos ritmos e especialmente importante na música egípcia. Se você ouve música oriental com acopanhamento de percussão, certamente reconhece o tradicional DT-TD-D do Maqsum.

O Baladi é uma versão folclórica do significado da terra, do campo e envolve no Egito um pouco de regionalismo Maqsum, caracterizado pelos familiares dois dums que lideram a frase. A palavra Baladi, o folclore. Este ritmo é muito típico aparecendo com frequência na música para Dança Oriental. O Dum duplo tende a submergir quando há acompanhamento melódico por isso, às vezes, pode não ser ouvido de imediato, então utiliza-se como base, uma versão simples de Maqsum.

 
UAHDA U NUZ

Uhahida é um (1) em árabe. Este ritmo é assim chamado por ter um Dum e meio no início da frase. Como possui um assento inicial e possibilidades de preenchimento no meio e no final, pode ser utilizado para fazer transições entre ritmos de variadas contagens. É muito utilizado no início de um solo de Darback, proporcionando um início lento e envolvente para o que vem a seguir.

 
SAID

 Este ritmo, novamente na essência um Maqsum, com diferente sabor e assento, é popular no Alto Egito. Similar ao Baladi, é usualmente tocado de forma acelerada, com batidas sobrepostas e fortes.

É tradicional para Tahib (dança masculina do bastão), assim como para Dança do Ventre, especialmente na conhecida como Dança da Bengala, funcionando para as mulheres como uma versão em paródia da dança masculina. Pode-se encontrar para este ritmo o nome de Ghauazi, para um estilo de Dança em particular, que é conhecido por Dança Cigana Egípcia.


MALFUF/SAUDI - KHALIGI

Ritmos Orientais com oito batidas por compasso, que são compostos por grupos de três, três e duas batidas, onde o assento está no primeiro tempo de cada grupo. São encontrados através de todo o Mediterrâneo e Oriente Médio. Na Arábia Saudita, seu nome é Saudi ou Khaligi, é tocado de forma mais lenta e incompleto com espaços de som, os Dums estão no tempo um e três. No Egito e Líbano, é chamado Malfuf, mais preenchido e acentuado muitas vezes com o Dum apenas no primeiro tempo.

Malfuf é usado para acompanhar danças em grupos, coreografias, músicas modernas ou populares. Poderá ser encontrado também nas entradas e saídas de shows por oferecer constância e velocidade necessárias para esses momentos.


MASMUDI

 Este ritmo é caracterizado pela união de duas frases com quatro compassos cada. Às vezes a primeira frase tem duas batidas condutoras. Uma dessas versões é chamada "masmudi guerreando" - supõe-se que sôa como um homem e uma mulher brigando. A versão que possui três batidas condutoras é usualmente chamada "masmudi caminhando".

Masmudi é muito comum na música para dança, aparecendo para intensificar a percussão, criando um momento especial na apresentação de riqueza inesperada.


AIUB

Comum e claro 2/4. Tocado no Oriente desde a Turquia até o Egito. É usado de forma lenta para uma dança tribal no norte da África chamada Zar - no Marrocos também aparece numa versão com seis batidas por compasso. É tocado de forma acelerada para os passos rápidos na dança oriental e no folclore.

Alguns dizem que Aiub é supostamente o som que poderia ilustrar na dança o andar do camelo. A dança dos cavalos típica do Egito tem por base o ritmo Aiub.

 
CHIFTITILI

Este rítmo Turco ou Grego é caracterizado por não ter acento no terceiro tempo e apresentar forte acento no quinto, sexto e sétimo tempo. Em sua essência é como outros similar ao Maqsum. Muito comum na Turquia e outros países, é tocado de forma lenta e moderada preferencialmente mantendo espaços entre as batidas. Os "darbackistas" apreciam completá-lo com improvisações inesperadas e criativas. Frequentemente este ritmo aparece acompanhando um Taksim (improvisação melódica).

 
RUSH

Floreado utilizado pelo percussionista, que cria grande impacto na audiência. Não possui acento pré-determinado nem contagem. Os dedos passeiam com rapidez assombrosa no darback, criando a sensação de vibração sonora. As flutuações de aceleração são totalmente improvisadas, bailarina e músico devem estar perfeitamente entrosados. Para o espectador, o instrumento leva a música para dentro de seus ouvidos e o corpo da bailarina deverá ser a tradução exata das impressões sonoras recebidas.


Yussif Dez/2005

Um comentário:

alzir disse...

Muito didático, fácil de ser compreendido até por quem é leigo em teoria musical